Eu estava na parada de ônibus à espera do meu bendito Guamá
presidente Vargas que sempre tardava a chegar. Meus amigos sempre me falaram
que eu sou muito sonhadora e sou mesmo, amo propor histórias pra pessoas
aleatórias, suponho que cada rosto tenha um mistério guardado por debaixo dos
desgostos do dia-a-dia.
E foi assim que repousando o olhar avistei um casal sentado
no banco da praça do operário, em frente do ao terminal rodoviário, um homem de
estatura média de cabelos longos e loiros, sem camisa, visivelmente amanhecido
fitava uma mulher morena, a mesma procurava não encara-lo, ele gesticulava como
se quisesse respostas. O casal em si não foi o que me chamou a atenção, mas,
sim a tristeza nos gestos dela. Ela colocava as mãos sob as pernas, fechava o
punho e sempre olhava as folhas que caiam das árvores, de alguma maneira as
folhas prendiam totalmente a sua atenção. Creio que ela se personificava na
folha, como se a sua vida estivesse caindo, caindo..
A moça só esperava que tivesse uma aterrissagem leve e que
um novo ciclo começasse com a chegada de uma nova estação. Foi então que ela
sorriu e respondeu algo ao rapaz. A expressão dele era um misto de
susto/angústia/terror, ele cruzou as pernas, colocou o cabelo atrás da orelha e
não disse uma palavra.
Então, com um único gesto tudo adquiriu um completo
sentido. Ela levou a sua mão até a barriga e acariciou como quisesse proteger o
seu futuro filho(a) do egoísmo do mundo e ele se inclinou colocando a mão sob a
dela, suspirou e deu um pequeno sorriso apoiando-a.
Logo vejo uma movimentação na parada, pensei que as pessoas ali tinham captado o que eu tinha acabado de ver , porém, era apenas o meu
bendito Guamá que tinha chego. Só que hoje eu estava feliz com o atraso dele.