Caía uma chuva
torrencial na cidade de Belém, era o fim da tarde quando através de uma ligação
tudo mudou na vida de uma senhora e do seu marido. Ela não se conteve e mesmo em
meio a raios e trovões, resolveu enfrentar a chuva em nome de um bem maior: o seu
pequeno milagre, o recomeçar da sua vida, a personificação do amor, a sua
futura filha.
Era um casebre
humilde, ela se encontrava numa rede que um dia já foi branca, pequena, frágil,
chorando. Foi quando o olhar das duas se encontraram, da sua futura mãe e da
criança que não havia se acostumado a viver fora da barriga da sua mãe
biológica. E o chorou cessou.
Uma nova vida
se iluminou.
A minha.
Nunca fui de
falar abertamente sobre quem eu sou, quem eu já fui ou quem um dia vou ser. Sou
uma menina-mulher repleta de sonhos. A única certeza que tenho na minha vida é
que tudo se deve aos meus pais. Eu não seria um terço do que eu sou hoje sem os
conselhos, brigas, e acima de tudo, amor deles.
E me incomoda
muito o fato de algumas pessoas ainda terem a mente fechada em relação a esse
assunto: Adoção.
Adotar é um ato
que transcende qualquer barreira de sentimento, de compreensão, de felicidade,
de realização. É algo que precisa ser colocado em vista pela nossa sociedade,
não é por que eu nasci e a minha família biológica não teve condições ou qualquer outro
motivo pra me criar, que você deve me julgar. Isso se aplica no geral.
Não é por que
uma criança vive em um orfanato, do qual você não acompanhou o nascimento dela,
crescimento, etc.. que ela vai ser pior do que alguém, pelo contrário, ela precisa
acima de tudo de carinho. Ela não é “um objeto” que pode ser descartado.
“Eu adotei,
mas, não me acostumei com a criança. Achei melhor trazê-la novamente para o
orfanato ainda no período de adaptação” Você tem ideia do quanto isso dói?
Principalmente, pra uma criança que já cresceu sem pais, sentir que foi
rejeitada novamente? Se você não tem certeza sobre a adoção, não tome partido. Pois, você está lidando com uma vida. Uma pessoa que cheia de esperanças e expectativas.
“ Eu nunca vou
adotar, não sei como a criança foi criada, vai que ela tem algum problema
psicológico” Primeiro, quem deve ter um problema psicológico é você. Tente ser
criado num orfanato, onde todos os dias você vê pessoas que podem ou não se tornarem os seus pais ou até mesmo os seus
amigos indo embora, acordar todos os dias, olhar pro teto, orar e sempre com a
mesma pergunta: será que eu ter vou um lar hoje? Será que os meus pais
finalmente vêm me buscar? Eu vou ter uma família?
Elas só desejam
serem amadas e ter um lugar pra finalmente poder chamar de lar. Adotar não é um
ato de caridade, não é pra qualquer um.
É ver o outro
antes de pensar em si, é educar, é no meio de uma discussão por besteira
abraçar e não falar nada, só pelo simples fato de estar ali. Eu, Silvia da
Conceição Santos de Castro, fui adotada. E não tenho a mínima vergonha de falar,
por que eu amo meu pais mais do que a
mim mesma e faço de tudo para vê-los felizes. Por que quando o meu mundo não
fazia sentido, quando tudo era preto e branco.. Uma senhora resolveu sair no
meio da chuva e ir me buscar naquela rede.
E os meus
futuros filhos, adotados ou não, saberão dessa história, pois, vou contar da
mesma maneira que estou fazendo agora: com lágrimas nos olhos. Não de tristeza
e sim de felicidade. Muita felicidade.
Eu amo vocês,
D. Maria e Sr. José. Amo mais que tudo.