quinta-feira, 25 de abril de 2019

Eu te vi.

Eu te vi.
Em novos lugares, conhecendo novas pessoas, estabelecendo ligações das quais não posso perguntar, eu te vi descendo e subindo a rua incontáveis vezes porque não sabia usar o Google Maps e se perdia sempre porque pegava  o ônibus errado, eu te vi na mais derradeira festa com os cabelos soltos e já sem tanta forma de tanto dançar, eu te vi conquistar grandes coisas como a sua formação e pequenas coisas como aprender a fazer arroz, eu te vi como ninguém nunca antes te conheceu, não apenas tua pele, teu pescoço e as tuas curvas, te vi sentada no canto do seu quarto com as luzes apagadas chorando como se o amanhã nunca fosse chegar, pedindo e implorando pra que tudo desse certo. Isso ninguém viu. Só eu.

Vi quando tentaram te calar, te consertar, te diminuir, quando te colocaram dentro de um quadrado de pessoa sorridente, sensível e engraçada, mas, no fundo ninguém, realmente, sabe do que você passa. Só eu.

Te vi como muito mais do que um amontoado de textões, de abraços, de lesuras e de pontos em seguida e tudo bem que você não me enxergue, eu só queria que você compreendesse que a melhor parte de você vai muito além da sua formação, das suas lágrimas, da sua sensibilidade e do seu jeito estabanado, você é feita de sentimentos e oque acontece a partir desse ponto é consequência disso, isso nunca foi um defeito.

Eu entendo que você admire tudo oque conquistou, mas, não quero que você jogue fora os tijolos mais importantes da sua construção. Isso te levaria pra longe de você mesma.

E é sobre isso que eu quero falar, que você não deve tirar tijolo nenhum da sua construção por causa de ninguém. Você não deve se desmoronar.


Você não deve se imaginar como um gasto, como um peso ou até mesmo como um acúmulo de sentimentos ruins. Quando você estiver nesse estado, eu vou estar lá e por mais que as pessoas insistam em falar que aquele não é o seu lugar, eu quero que você – chorando ou não- diga, em alto e bom som:  
- Eu, me aceito, com todos os erros e defeitos, que entendo que o passado realmente foi importante, mas, oque realmente existe agora é o presente. O fim do meu antigo eu, foi um novo começo pra mim.  Eu me reconstruo todos os dias com a minha nova linguagem que não precisei de nenhum diploma pra lecionar, mas, foi preciso de 24 anos da minha vida pra aprender.. o amor próprio.



quarta-feira, 3 de abril de 2019

Carta aberta ao meu querido corpo.


Belém, 23 de março de 2019.

Olá, meu querido corpo. Começo essa pequena carta sentada na cadeira em uma posição horrível a qual eu sei que as minhas costas vão doer depois, queria te pedir desculpas por isso. De acordo com o Dicionário essa pequena palavra tem alguns significados, mas, escolhi usar esse: “razão ou motivo alegado por alguém para desculpar a si mesmo ou a outrem; justificativa.”

Estou me olhando no espelho de cabeceira vendo esses braços pequenos e magricelas, é justamente por isso que eu decidi conversar com você, eu demorei demais para te dar uma pequena satisfação de tudo. Não me arrependo dos lugares que te levei, das pessoas que te fiz conhecer e de todo esse processo doloroso que você vem passando desde o final do ano passado, eu não me preocupei em te tratar melhor assim como não rebato quando me veem e a primeira coisa que comentam é sobre você.

É angustiante tanto para você quanto pra mim, pode acreditar. Te reduziram a um simples corpo magricelo e vivem fazendo comparações ao oque você era, porque é o que era melhor tende um dia voltar a ser bom, não é mesmo? Mas, nem sempre isso acontece.

Parece que você está preso naquele cubículo do Ensino Fundamental, onde falavam das suas olheiras e te chamavam de noiva cadáver, onde se te vissem de cabelo preso viriam zoar a sua testa, o clássico “esqueletinho” e o pior... a lista de garotas mais feias da escola. Mas, você passou por TUDO isso, nem sempre tão firme e forte, porém, você venceu.. mesmo com todas suas cicatrizes.

As palavras batem e são absorvidas.. serão perpetuadas por um tempo ainda quando eu te observar na frente do espelho, contudo, eu te abraço e digo que tudo irá ficar bem, eu o amo, o amo de verdade. Eu amo a pinta que tenho na minha barriga, meus braços magricelas, as pernas finas e grandes, eu amo cada partícula dessa minha imensidão.

Eu sei que você vai falar “mas, nem sempre você me ama” e isso está certo, existem momentos que eu o odeio e trago como verdade absoluta as palavras alheias e te julgo, te xingo e te odeio, toda via, volto atrás e te peço desculpa. As pessoas não têm noção do poder de algumas palavras na vida das outras, por isso, devemos repensar sempre em nossas atitudes, vivendo e aprendendo, né?

Elas só se preocupam com você, assim como eu também. Porém, dói. Devemos aprender a lidar com os nossos problemas sozinhos e crescer, a vida não vai ser mais fácil com você só por causa do seu sentimentalismo.

Mas, posso fazer uma pequena promessa pra você.. vou te levar a lugares bons, criar memórias boas e algumas nem tão legais, contudo, sempre estaremos juntos. Um apoiando o outro.
Obrigada por tudo, eu te amo, meu pequeno corpo magricela.